

"A terra onde nasci é um vulcão adormecido."
©Ricardo Lopes
Natália Correia


Entre Corações leva os Açores à Expo 2025 Osaka. De 14 a 17 de agosto, o Pavilhão de Portugal será palco do encontro entre dois arquipélagos. Duas gotas formam um coração; quatro pétalas contam a história do Mar, Terra, Cultura e Futuro. um símbolo que liga ilhas, oceanos… e pessoas.
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©Ricardo Lopes
Viola da Terra: A VOZ
DOS AÇORES
A Viola da Terra é mais do que um instrumento: é a banda sonora das ilhas. Com 12 cordas e uma sonoridade única, nasceu nos Açores e ecoa histórias de partidas, regressos e saudade. Cada acorde carrega o som do mar e a alma do arquipélago.
A Viola da Terra nasceu do silêncio das ilhas, trazida pelos primeiros povoadores portugueses e moldada pela solidão atlântica, pela imaginação e pelas mãos pacientes de artesãos locais. Cresceu até se tornar num instrumento singular de 12 ou 15 cordas, com um tampo onde dois corações se entrelaçam, unidos por uma lágrima. Símbolo da saudade dos que partiram e dos que ficaram.
Mais do que música, é memória. Presença discreta nos enxovais, protagonista das folias do Espírito Santo, cúmplice das festas populares. Viaja nas malas dos emigrantes e regressa sempre, mesmo quando está longe. Porque a sua voz é a das ilhas.
Houve um tempo em que quase se calou. A emigração e a falta de mestres deixaram-na à beira do esquecimento. Mas mãos apaixonadas, como as de Rafael Carvalho, devolveram-lhe a vida. Trouxeram-na para as escolas, para os palcos, para o digital. Fizeram-na respirar outra vez.
Cada Viola da Terra é um mapa secreto. O tampo, com dois corações ligados por um cordão que termina numa lágrima, fala de amor e saudade, por isso é chamada a “Viola dos Dois Corações”. Entre as cravelhas, um pequeno espelho recorda um gesto ritual: os tocadores penteavam-se antes de tocarem de porta em porta, como se a música pedisse uma preparação da alma. Virada ao contrário, a viola revela a Coroa do Espírito Santo, símbolo maior das festas açorianas, reafirmando a ligação entre fé, devoção e identidade. Sob o cavalete, quase sempre, repousa uma garça ou um açor, a ave que deu nome ao arquipélago, lembrando a ligação às ilhas e ao oceano. E, em algumas violas, surge ainda um ornamento em forma de arpa ou lira, por vezes ladeado por serpentes, um detalhe que mistura mitologia, natureza e música, mostrando que cada instrumento é mais do que madeira e cordas: é um compêndio de símbolos.
Hoje, a Viola da Terra é reconhecida como património cultural dos Açores (certificada pela marca Artesanato dos Açores em 2019). Toca os ritmos tradicionais. A chamarrita, a sapateia, a bela aurora e o sentimento universal da saudade. Mas também ousa: nas mãos de artistas e estudantes, transforma-se, experimenta, reinventa-se. A Viola da Terra é, afinal, o retrato sonoro dos Açores: duas metades separadas pelo oceano, ligadas por um fio invisível que vibra em cada acorde.
Diário de Bordos

A participação dos Açores na Expo Osaka 2025 foi apresentada em março na BTL, em Lisboa. “Entre Corações” celebra a ligação entre Açores e Japão e antecipa quatro dias de destaque no Pavilhão de Portugal, ponto de encontro de culturas, oceanos e futuros possíveis.

Entre fios de linho e algodão, as bordadeiras da Terceira desenham flores, geometrias e memórias. Cada ponto é herança, cada pano um legado de um ofício delicado que atravessa gerações e transforma simples tecido em arte intemporal, preservando tradições.

Há cinco séculos, os “Bárbaros do Sul” chegaram ao Japão. O que parecia um choque de mundos tornou-se ponte: nasceu a arte namban, renasceu o diálogo e abriu-se caminho a uma troca estética que ainda hoje ecoa entre ilhas, oceanos e coleções.

©Ricardo Lopes
Quatro Documentários:
Quatro Olhares sobre os Açores.
Uma viagem entre ilhas e culturas, onde a música, a arte e a memória revelam o que une o Atlântico ao Pacífico. mostram que a distância pode ser atravessada por algo tão simples e poderoso como um coração.
Quatro filmes, quatro perspetivas, um só coração. Cada documentário revela uma faceta dos Açores — da terra ao mar, da memória à cultura — criando um retrato vivo do arquipélago e do seu diálogo com o Japão na Expo 2025 Osaka.
Brevemente
Entre Corações é a
presença dos Açores
na Expo 2025 Osaka.
Uma viagem entre ilhas e culturas, onde a música, a arte e a memória revelam o que une o Atlântico ao Pacífico. mostram que a distância pode ser atravessada por algo tão simples e poderoso como um coração.
Foi aqui em Osaka que o mundo já se reuniu duas vezes para imaginar futuros. Em 1970, a Expo proclamou “Progresso e Harmonia para a Humanidade” e apresentou ao planeta o Shinkansen, o comboio-bala, como se o futuro tivesse chegado com uma promessa de velocidade. Em 1990, Osaka voltou a abrir-se com a Expo das Flores e do Verde, celebrando a “Convivência Harmoniosa entre a Natureza e a Humanidade”, um hino silencioso à terra e ao que ela nos dá. Agora, em 2025, Osaka ergue-se pela terceira vez como farol, com o tema “Projetar a Sociedade Futura para as Nossas Vidas.” Durante 184 dias, a ilha artificial de Yumeshima será palco de encontros, invenções e conversas guiadas por três ideias essenciais: Salvar Vidas. Capacitar Vidas. Conectar Vidas. No coração desta grande conversa está o Pavilhão de Portugal. Um espaço que não se limita a ser visto, é sentido. Entre paredes que respiram azul, o visitante atravessa mares, mergulha em experiências imersivas, descobre tecnologias para salvar ecossistemas e percebe como um país à beira-mar se tornou referência mundial em sustentabilidade. Lá dentro, uma revelação ecoa como maré: os Açores guardam uma das maiores reservas marítimas do mundo. Um território de água protegida, onde o Atlântico ainda respira fundo e onde o futuro do oceano está a ser escrito em silêncio. Em agosto, o Atlântico atravessa-se. Os Açores chegam a Osaka com a exposição Entre Corações e transformam o Pavilhão de Portugal num arquipélago vivo, com música, imagens, histórias e encontros que ligam nove ilhas ao Japão. Nesse mês, os Açores pousam como quem deixa um coração em água calma. E a Expo aprende que há ilhas que não se medem em quilómetros, medem-se em pulsares.

©Fernarndo Guerra